UM RETORNO À ESCRAVIDÃO: O RETROCESSO DO PL DAS TERCEIRAZAÇÕES
ARTIGO - Por Baruc Martins - Está em tramitação no Congresso
Nacional um Projeto de Lei (PL), do senador Sandro Mabel (PMDB/GO) que acaba
com o trabalho da maneira que conhecemos hoje. O PL 4330/04, conhecido como PL
das terceirizações, propõe que o serviço terceirizado possa ser ofertado não só
como atividade meio, mas também como atividade fim na Administração Pública
Direta. Isso, na prática, junto com as medidas provisórias sancionadas por
Dilma que impõem novas regras ao seguro-desemprego e a pensão por morte, acaba
com o concurso público e coloca sobre o colo do trabalhador e da trabalhadora
uma dinamite com o pavio já aceso.
Não é novidade, dentre os
pesquisadores da sociologia do trabalho, o que significa o trabalho
terceirizado. No geral, os adjetivos são os piores: alta rotatividade, salários
mais baixos, sem direito a sindicalização. O que, colocado de outra forma,
também significa: maior tempo de trabalho e sem direitos trabalhistas mínimos.
O cenário, portanto, que nunca foi
novidade para a economia do país, é de um retorno, ainda que em
outros termos, à escravidão. Ou, de pelo menos, um certo tipo dela.
Basta pensar, por exemplo, qual a
lógica de uma empresa contratar outra para prestar um serviço que poderia ser
desenvolvido por seus funcionários? Lógico que a segunda, a contratada, vai
querer lucrar e o lucro é justamente o que deveria ser parte do salário e
qualificação dos terceirizados. Isso, na Administração Pública, piora.
Pensemos na escola. Geralmente, os
serviços de limpeza, vigilância e de alimentação são terceirizados. Para quem
sempre reclama da compreensão mais extensiva da escola para além do eixo
aluno-professor, isso se torna uma falácia. E não sem motivo. Os trabalhadores
terceirizados demandam pouca qualificação e a alta rotatividade não permite um
investimento em sua qualificação. O resultado é óbvio: a cada quatro
meses, por exemplo, um novo estranho está trabalhando na
escola. Os mais otimistas chegam a dizer que ele ou ela fazem parte
da comunidade escolar, mas, de que modo?
Na Justiça do Trabalho os casos
mais pitorescos – numa expressão bastante suave – são demandados por
empresas terceirizadas. A exemplo, segundo Ricardo Antunes, um dos principais
sociólogos do trabalho, do uso de fraldas para dobrar a jornada de trabalho sem
precisar usar o banheiro em empresas de telemarketing do Brasil.
E por aí segue...
O que esse PL aponta para o
horizonte é o desmonte do trabalho e a sua evidente recondução periférica com
mais arrocho e uma precarização constante. Tão brutal que, como um curso do
rio, arrasta a tudo e a todos a um só tempo. Tanto no setor privado, lugar por
excelência dos maiores abusos, quanto, agora, no serviço público.
Dado toda essa conjuntura nefasta,
amanhã (15), um grande ato, convocado pelas centrais sindicais e organizações
de esquerda, tomarão conta das ruas do Brasil. Não só para rechaçar o PL das
Terceirizações como também contrário às medidas provisórias de ajuste fiscal de
Dilma. Ainda não é o ideal nem suficiente. Mas já é um primeiro passo.
Os ataques à classe trabalhadora
continuarão...
Baruc C. Martins é formando em Jornalismo pela UFS.
UM RETORNO À ESCRAVIDÃO: O RETROCESSO DO PL DAS TERCEIRAZAÇÕES
Reviewed by Jorge Schalgter Leal
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22:10
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