24 ANOS DA MAIOR TRAGÉDIA DA HISTÓRIA POÇO-VERDENSE
Há 24 anos, a maior tragédia da história poço-verdense marcou a vida
de dezenas de famílias, cujos parentes foram atingidos pela explosão
relacionada ao vazamento de gás de um botijão no dia 11 de fevereiro de 1991.
Era uma manhã ensolarada de sábado. A feira estava chegando ao horário de pico.
A maioria do povo que circulava entre a prefeitura (hoje Câmara municipal) e o
mercado da farinha era do interior. O vai e vem das pessoas que passavam com as
compras em direção ao veículo que os levaria para casa ou entrando no mercado em nada denunciava o terror que haveria minutos depois. Uma fagulha mudaria
a história de suas vidas.
Numa das dezenas de barracas perfiladas naquela extensão da avenida
Epifânio Dória estava a banca de uma vendedora de comida (muito comum o
comércio do PF - prato feito) e doces. De acordo com testemunhas da época, não
se tratava de um botijão de cozinha comum, mas de um modelo menor. Foi por
causa de uma falha de segurança do equipamento deixando escapar o gás que
causou a explosão ao ar livre embora abafado por lonas e transeuntes. Quem
estava na barraca foi atingido em cheio tanto que cinco delas morreram dentro
de 24 horas. Todos foram levados para o hospital regional e encaminhados à
capital em carros improvisados já que o município na época não tinha as
condições de hoje. Era a gestão do ex-prefeito Carlos Alberto Lima.
Para D.Edite,
"algumas pessoas a gente levou dentro de qualquer carro que pudesse ajudar
sem nenhuma preocupação com higiene. A agonia era tanta que ninguém se lembrava
disso!". Muitas das vítimas tiveram queimaduras de 3o e 4o graus e boa
parte deles era do povoado S.José.
"Meu cunhado tem dois irmãos que foram atingidos quando criança. Hoje eles
moram em Salvador/Ba. Os dois tiveram queimaduras nos braços na época, mas
depois de grande ficou apenas algumas manchas, mas assim... eles convivem bem
com o problema!", explica Deisiane, moradora do S.José.
A correria durante a explosão impulsionou também gente desconhecida
a ajudar os feridos. Alguns eram levados para lojas de material de construção
que ficavam bem em frente. Uma poço-verdense, que estava grávida na época,
relatou o sofrimento das pessoas trazidas em carne viva para dentro da loja. "O local exato foi entre a vidraçaria e o fundo da Ki-pão. Eu ouvi um enorme barulho, vi pessoas com roupas queimadas e por conta da gravidez fiquei muito chocada. Tive que entrar numa casa e lá vi uma senhora que havia desmaiado. Por o bojão ser pequeno e ter causado toda essa tragédia, as pessoas na época ficavam imaginado o que poderia ter acontecido se o bojão fosse de tamanho grande", relata a senhora Nininha Farias. Até então, ninguém sabia o que tinha acontecido de verdade. Via-se apenas todo
mundo correndo para longe do local enquanto os queimados eram levados para o
hospital. A preocupação era encontrar carro disponível para atender a
quantidade de feridos.
"Eu sei que depois do acontecido, a gente ainda dava cesta
básica para uma mulher no Xique-Xique a pedido da prefeitura. Eu fui uma delas a
levar! Ela não tinha como trabalhar", conta Edite. A CNNPV pediu ao jovem
Reinan Menezes do Grupo IFriends para entrevistar personagens que fizeram parte dessa história.
Moradores como Seu Santana e D.Valquíria contam um pouco do drama passado na
época. Confira o vídeo produzido pela turma do canal no You Tube (à esquerda).
Hoje, muitas das vítimas daquela tragédia levam a vida normalmente.
Outras tentam conviver com o trauma e com lembranças de entes queridos a
exemplo de D.Valquíria. Como muitas daquelas pessoas nem sequer tiveram
acompanhamento psicológico tampouco conquistaram alguma indenização pela falta
imediata de atendimento do poder público uma vez que não havia ambulâncias para
emergência, fica aberto um precedente para discussão no Legislativo sobre o
caso. Afinal, há 24 anos elas estão aí sem amparo legal.
Comentários publicados em rede social logo após publicação:(atualizado em 12/2/15)
Comentários publicados em rede social logo após publicação:(atualizado em 12/2/15)
"Incrível como a
qualidade do texto nos transporta no tempo. Na ocasião da tragédia tinha 9 anos
e dela ficou o trauma de botijão de gás. A barraca onde aconteceu a explosão
ficava montada num canteiro em frente a nossa casa, estava no quintal e ao
ouvir o barulho corri de volta pra casa quando me deparei com aquela menina de
cerca de 7 anos completamente queimada, da cabeça aos pés, desesperada, pedindo
socorro, meu Pai olhava pra ela e sem dizer uma palavra lamentava como se fosse
um filho seu, tentando ajudar colocou no carro com umas toalhas e levou para o
hospital, quando ele voltou provavelmente me encontrou ali, no mesmo lugar
estático, tentando compreender o que aconteceu, dias depois soubemos que ela e
outras vítimas faleceram, entre tantos outros feridos... Difícil concluir sobre
a responsabilidade da tragédia, uma imprudência, acompanhada da precariedade
comum nas feiras livres daquela época e recorrente até hoje em alguns lugares.
Fato é que aquela cena nunca saiu da minha cabeça e agora percebi que todos os
detalhes estavam aqui, guardados como lembrança de um dia triste, trágico.
Parabéns a Jorge Leal pela matéria,
tão bem detalhada tantos anos depois", Joab Almeida.
"Eu
estava no momento da explosão, o botijão veio veio parar debaixo da barraca que
eu estava, mas graças a Deus não mim machuquei grave, apenas as minhas pernas
ficarão vermelhas, ainda cheguei a ir até o hospital. O pior de tudo foi o
psicológico, fiquei por muito tempo sem conseguir dormir direito, pois a única
coisa que vinha na mente era a cena daquelas pessoas com o corpo em chamas,
principalmente uma criança que tenho na mente correndo com a roupa pegando
fogo, horrível, ainda hoje fico assustada quando sinto algum cheiro do gás de
botijão", diz Selma de Jesus.
"Olha que legal a história contada por testemunhas de um dia
que poderia passar despercebido. Gostei muito da matéria, e sobretudo dessa
participação dos leitores como Joab fez acima. Acho que o CNNPV tem muito mais
a contribuir pra memória coletiva da nossa população", Francimare Araújo.
"Essa
explosão vitimou D. Maria Ermenegildo, Ninha de Roque e sua filha, D. Rosália
de S.Jose e uma quinta vitima que não era morador da região", Cassia
Santos.
24 ANOS DA MAIOR TRAGÉDIA DA HISTÓRIA POÇO-VERDENSE
Reviewed by Jorge Schalgter Leal
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20:05
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Lembro-me de estar no corredor do hospital local e ver todas aquelas pessoas agoniadas com graves queimaduras chorando e pedindo por socorro, pelo amor de Deus. Ver a pele daquelas pessoas daquele jeito foi horrível, parecia que a pele havia desprendido-se...havia também muitas pessoas que, voluntariamente, prestavam algum tipo de socorro, como aplicar um tipo de spray sobre a pele daqueles miseráveis sofredores, pois o número de funcionários do hospital não dava conta de tantas ocorrencias. Foi um verdadeiro terror
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