O FOLK POP DO POÇO-VERDENSE ARTHUR MATOS
Talento de rara sensibilidade musical, o
compositor e cantor sergipano Arthur Matos
lançou seu terceiro álbum, intitulado Accidental
Light, como uma das melhores surpresas do ano. Um trabalho maduro, bem
produzido e de extremo bom gosto. Sob o amparo de uma sonoridade folkster
(indie folk, folk-pop), ele vai mais além da abrangência do que o significado
remete. Compositor refinado, Arthur elabora canções expressivas e intimistas
com a tipicidade bem peculiar do estilo – aqui deixadas ao dispor do ouvinte -,
como postura exemplar contra o consumismo do pop rasteiro. Pode até soar
pretensioso, mas diante de tantos artifícios apregoados no volátil cenário da
música moderna, a singeleza de suas composições – com uma feitura de
melodias/harmonias bem pensadas e produzidas -, o coloca no patamar da
qualidade musical de alto padrão.
Em Accidental
Light temos 11 faixas complexas, com ótima produção de Fabrício
Rossini, demonstrando o progresso musical do compositor, que vem sendo
elaborado desde seus dois discos anteriores (por sinal, compostos em
português). Reforçado por uma banda azeitada, com execuções primorosas,
arranjos coerentes e timbragens vintage, contribuindo para o acabamento de um
disco perfeito! Arthur tem a veia folk que nasce de vertentes tradicionalistas
e deságua no melhor conceito formato pop. Citar nomes importantes, antigos e
novos, como Bob Dylan, Tim Buckley, Neil Young, Steve Earle, Neil Halstead,
Frank Turner; são exemplos de referências importantes para compreender o
conteúdo sonoro do compositor. No disco, Arthur gravou as vozes e os violões e
recebeu a ajuda providencial dos músicos Rafael Ramos (teclados) e Diego
Santana (bateria). No álbum destacam-se as faixas “Life Holds”, “Marigold” e a
faixa título. É um disco gringo!
O inimigo: Esse
novo disco parece ser o resultado de uma sonoridade mais madura, e menos
intimista, em relação aos outros. É mais pop, digamos assim?
Arthur Matos:
Com certeza. Nos meus dois primeiros trabalhos como artista solo,Seu Lugar (2012) e Pacífico Atlântico (2013) o foco era
totalmente pessoal. Não só das letras, mas os arranjos eram um pouco mais
rebuscados, obscuros eu diria. Já emAccidental
Light quis prezar pela simplicidade principalmente nas letras,
queria que fossem diretas e efetivas. A escolha da língua não foi por questão
estética, mas sim uma coisa que tinha colocado na minha cabeça desde as
gravações de Pacífico Atlântico,
“meu próximo disco será em inglês”. E foi o que aconteceu, escrevi as músicas
em torno de um mês, exceto “Tomorrow” que foi escrita bem antes na época
da Nantes, minha antiga banda. Tudo que fiz foi fazer uma nova letra para
ela, dessa vez em inglês. Daí, sentei com Fabrício Rossini (que assina a
produção do álbum e também tocou guitarra e baixo) e expliquei sobre o conceito
de Accidental Light, que era
basicamente fazer um disco simples e que as pessoas pudessem assimilar de
primeira, como costumamos dizer. Então trabalhamos nos arranjos de forma que os
instrumentos fossem quase que um canto simples. Os riffs de guitarra,
mellotron, as linhas de baixos, são altamente cantáveis e de fácil assimilação,
juntamente com as letras simples e suas melodias. A ideia era essa. Mas creio
que todo este processo de tirar um certo peso das composições é um processo
natural que cada artista encontra em determinado momento.
Há algo
surpreendente que você tenha descoberto, ou aprimorado, durante esse tempo de
trabalhos lançados?
Muita coisa, muita mesmo! Até em obras já
conhecidas e que de certa forma estava habituado a ouvir, é impressionante a
quantidade de novas informações que você percebe dentro delas a cada nova
ouvida. Beach Boys é um caso dentre eles, Simon and Garfunkel também, citando
alguns. Mas com o passar dos anos passei a pesquisar coisas mais obscuras
dentro deste universo 60’s e 70’s, no que sou eternamente lisonjeado em ter
encontrado grandes compositores que de certa forma foram totalmente
subestimados e ficaram perdidos no tempo. Casos como o de Judee Sill, Jackson
C. Frank, Saggitarius, Vashti Bunyan, Graham Nash, tem um espaço muito grande
no meu modo de ver música tanto quanto um Beatles (sou beatlemaniaco) da vida.
Tudo isso somado a muita influências de artistas contemporâneos foram o estopim
para esses três discos que lancei de 2012 até agora.
Embora o conceito
folk seja universal, como você vê seu trabalho diante de um público pouco
conhecedor desse legado “anglófilo”?
Não dei muita bola se o meu trabalho iria
alcançar muita gente facilmente, sempre tentei fazer o que estava sentindo
naquele momento e aderi uma sonoridade a qual realmente me identifico. Eu podia
facilmente “loshermanizar” a coisa toda e estava tudo certo, o alcance iria ser
notavelmente maior, disso eu tenho certeza. Mas isso não sou eu, não é minha
verdade. Por isso aprecio bastante quando uma pessoa vez ou outra vem até mim e
elogia o meu trabalho de forma tão singular. E assim vou indo, compondo e acreditando
nessas canções.
Você acha que a
necessidade de afirmação ainda é um grande “problema” na música pop,
principalmente aqui em nosso país?
No fundo todos sonham em poder mostrar seus
trabalhos pra muita gente, aquela coisa toda, um bom cachê, um bom camarim,
boas condições no palco, mas tenho notado que os bons artistas nacionais, não
só do folk, mas de uma forma geral, tem estado meio despreocupados dessas
coisas de afirmação, tem todo mundo trabalhado, dando os corres, tocando em
cócó, carregando amplificador, mantendo contato uns com os outros, a cena
brasileira tem melhorado neste sentido, os artistas estão mais receptivos uns
com os outros, e isto de certa forma ecoa no público também.
O que você tem
ouvido, ou acha interessante, dentro desse contexto aqui no Brasil?
Se é que existe essa cena folk no Brasil,
acredito que ela está muito bem representada, temos ótimos músicos e
compositores hoje aqui nesta safra folk e acho que os que mais me emocionam são
sem dúvida o Benjamin, que é um exímio compositor e violonista, e o novo
trabalho da Rosanne Machado (Ex-Rosie and me) como Rosie Mankato, que é
pra mim umas das promessas de futuros lançamentos. Pelo que pude conferir vem
coisa fina por ai.
Gostaria de saber
o que a música significa pra você. E o que especialmente o gênero folk têm de
importância na sua formação musical?
Não me vejo fazendo outra coisa que não seja
música. Não mais. Ela entrou em minha vida de forma muito descompromissada, mas
da minha parte eu sempre fui uma pessoa que gosta de dar atenção a coisas
especiais. E foi o caso da música a cada ano que passa, a cada novo som
encontrado, é uma satisfação que alimenta minha alma de uma maneira que mais
nada tem o mesmo efeito. Todas as minhas referências musicais, de Beatles a
R.E.M., de Neil Young a Milk Carton Kids moldaram minha forma de escrever, de
pensar em arranjos. Isso unido às experiências musicais divididas por todos
esses anos com amigos e companheiros musicais, definitivamente me ajudaram a
moldar uma expressão viva do que eu penso sobre a vida em todos os sentidos.
O FOLK POP DO POÇO-VERDENSE ARTHUR MATOS
Reviewed by Jorge Schalgter Leal
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20:26
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