CELULAR TEM LUGAR NA CLASSE?
Fevereiro inaugura mais um ano escolar,
compartilhado com novos ou antigos colegas. Com um novo professor ou
professora. Com novos desafios. Proponho que nos coloquemos um para pautar
debates e tomadas de decisão que observem e coordenem indissociavelmente os
lados de quem ensina e de quem aprende. O desafio é sobre o lugar do celular na
escola ou na sala de aula. Vale a pena nos posicionarmos em relação a esse
objeto tão "multidisciplinar".
Há muita
discussão sobre benefícios, ou não, de seu uso na escola. Se quiser saber
quanta, busque na internet as palavras "celular escola" ou "mobile phone school". Os prós e os
contras são abundantes. Como esse aparelho é cada vez mais usado e querido
pelos alunos, o tema deve ser discutido no contexto de cada escola ou sala de
aula. Trata-se de tomar uma posição e transformá-la em prática. Assumir se ele
é também um recurso de ensino e aprender a utilizá-lo como ferramenta
pedagógica.
Com o
celular, crianças e jovens escrevem, leem, resolvem problemas, fazem cálculos,
tiram e organizam fotos, ouvem e gravam músicas, trocam imagens e mensagens,
compartilham informações ou notícias, jogam e brincam. O curioso é que nenhuma
dessas atividades é estranha à escola. Com todas as conexões possibilitadas
pelo conhecimento científico aplicado, os estudantes estabelecem contato com o
mundo e seus pares. Eles sentem-se possuídos e possuidores segundo a forma de
reciprocidade que caracteriza o mundo tecnológico de hoje. Daí seu apelo
irresistível.
Se
atualmente a tecnologia faz parte da experiência sociocultural dos alunos,
então considerar seus benefícios na escola pode ser valioso. Para isso, é
importante observar o que, quanto e como eles usam o celular, além de discutir
o valor que lhe atribuem. Regular, estabelecer e respeitar limites, diferenciar
e integrar são ações diferentes de ser contra ou a favor. Implica assumir que
ele pode também ser um meio de aprender os conteúdos escolares e um modo de
alunos e professores compartilharem informações e comunicações, para ser
transformadas em conhecimentos. Quem sabe, também, em sabedoria. Trata-se,
então, de pensar o lugar desse aparelho na escola.
Estabelecer
limites e saber a respeitá-los pode ser uma experiência determinante para os
alunos. Permite-nos aprender a disciplinar o espaço e o tempo do celular na
sala de aula. Se crianças e jovens gostam tanto de jogar com ele, e recorrem a
ele para muitas coisas, cabe ensinar os alunos a usá-lo bem, e achar um
equilíbrio para o que, tal como os remédios, supõe encontrar a melhor dosagem.
De resto, trata-se de aproveitar todas as possibilidades do celular, assim como
fazemos com outros objetos e recursos escolares.
A
Educação Básica, hoje, tem compromisso com a inclusão de todas as crianças e de
todos os jovens. Que eles não sejam incluídos apenas como alunos, e sim como
pessoas que vivem em um tempo, talvez o mais importante de suas vidas. E
pessoas não chegam nuas à sala de aula. Elas vêm vestidas com os costumes de
sua casa e com os objetos que preenchem sua vida, para o seu bem ou o seu mal.
Um deles é o celular. Esquecer-se dele no cotidiano escolar é um jeito de
praticar, mesmo sem o pretender, a lógica da exclusão.
Lino de Macedo
Professor
aposentado do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(USP)-fonte:novaescola
CELULAR TEM LUGAR NA CLASSE?
Reviewed by Jorge Schalgter Leal
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