1o DOCUMENTÁRIO POÇO-VERDENSE RECEBE OS APLAUSOS DO PÚBLICO!
Some a
cultura do brasileiro que não é muito afoito a assistir a documentário além
daquele sobre animais selvagens ou a respeito de obras grandiosas, uma Feira
Cultural burbulhando no centro, eventos esportivos de uma ponta a outra da
cidade e entrega de títulos atraíndo a nata política, a pré-estreia do
documentário "POÇO VERDE, TERRA DAS ALGAROBEIRAS" do estudante de
Jornalismo Baruc Carvalho Martins atraiu a atenção de um público representativo
na noite desta terça-feira (25) no anfiteatro do Colégio Estadual Prof. João de
Oliveira.
Quem
prestigiou a primeira película documental poço-verdense saiu de alma lavada com
a história de personagens únicos na vida cotidiana de Poço Verde. Tudo bem,
havia dois estrangeiros infiltrados que não perdem em nada em graça e drama
para os patrícios do outro lado de cá da ponte Poço Verde/Bonfim-Fátima/Ba.
Como bem
entitula a obra cinematográfica, a viagem por entre as algarobeiras
(provavelmente enrolou a língua) chega até à casa do senhor Delson ao lado do
neto Alan Debaixo de um pé de algaroba, a dupla nos reporta a outro personagem histórico - Neto Emídio. Sua peneira em torno das curiosidades históricas em tempo
eleitoral, por exemplo, nos traz um fato novo - atrás daquele homem sério de
hoje já foi um cabra simpático com o povo. Prova disso foi a conquista de outro
mandato a contragosto do governo do estado e de figuras importantes na cidade.
Aquela felicidade traduziu-se logo em seguida numa toada tão saudosista quanto
a da irmã Gabriela, porém não melhor do que o antigo astro da música local Seu
Oliveira Cantador. A tez morena que lembra bem o povo hindu e cabelos
acinzentados encheram de orgulho a tela com sua serenidade, eloquência e uma
felicidade presente nas coisas mais
simples da vida. De tão simples que revelou o lugar mais prazeroso para compor
suas canções - o quintal de sua casa.
Com uma
garrafa peti cortada na medida certa para "panhar" a água fina que
jazia no quintal, Seu Oliveira nos leva ao modo como parteiras do interior
traziam ao mundo filhos de poço-verdense. Judite Parteira revela a sua
inquietude em torno da aprendizagem (em como
realizar o parto sem os instrumentos legais conforme prescreve a Medicina).
Apenas com um lençol limpo, água quente e uma técnica que Deus lhe deu como
dom, Judite emociona a todos com uma história de reviravoltas em meio a
questões políticas. Sua fé era tamanha para não cometer nenhum erro na hora do
parto feito em casa que as canções religiosas daquela época enchem agora casa de
Seu Dudu que passeia por entre os cômodos relembrando também sua história de
vida. Vida essa tão brilhante quanto a sua rica relação com os intrumentos
musicais e com as inúmeras músicas que compôs e aprendeu a tocar sem nunca ter tido
aula do gênero. O dedilhar no velho amigo e
instrumento de trabalho, os acordes finais animam a tela para a
aparição de uma personagem singular - ou poderíamos dizer um estrangeiro alegre
e por vezes cativante - Raiane. Ele ou ela é uma daquela figuras ímpar que tenta marcar
presença e dignidade em meio a um choque cultural nordestino - aceitar a figura
de um homem com apelo feminino mais forte do que seu próprio ser. Raiane faz a
plateia rir ao relatar a trajetória para se firmar como uma poço-verdense e
assumir de fato o posto de um ser humano tão importante quanto qualquer um outro.
Esse amor pela terra das algarobeiras e por um estrangeiro que foi-se embora
tão rápido quanto sua passagem na tela não foi maior que o desejo de D.Raimunda
em revelar todo o drama em adotar um bebê renegado por uma mãe e a jornada para não deixar morrer uma tradição local - o reisado em Poço Verde. Um amor
incondicional de uma estrangeira sem título tampouco sem Comendas, porém rainha
do seu próprio reisado. Um bumba-meu-boi curva-se diante da capela em direção
àquela que na sua generosidade é tão poçoverdense quanto nós.
O público aplaudiu de pé a primorosa filmagem que entra para os anais da história local. (fotos:divulgação)
Sobre
o belíssimo trabalho, Baruc nos deu uma entrevista exclusiva:
Depois de pronto o material, você acredita que faltou alguém no documentário?
R.: Eu
acho que sim. Faltou muita gente. Mas esse não é o problema. Precisava montar
uma narrativa consistente, bem acabada. Depois de escolher o conceito de
trabalhar a desimportância da vida foi que pensei nos entrevistados e no que
cada um deles poderia mobilizar para a minha vida a ponto de transformar em um
filme. O documentário também se utiliza de uma gramática própria e eu precisava
reduzir as suas frestas, aprisionar as minhas escolhas de personagens para dar
maior liberdade e conseguir um resultado mais coeso e profundo.
Por que
foram incluídos dois estrangeiros?
R: Essa
pergunta me faz te responder, se me permite (risos), com uma outra: o que é
estrangeiro? A quem tomamos enquanto estrangeiro? Foi essa a premissa que me
fez colocar pessoas que não moram nos limites geográficos da cidade, como a
Raiane e a Dona Raimunda, no documentário. Porque elas participam ativamente da
vida da cidade, suas vidas estão entrelaçadas com uma dinâmica que também nos
atinge. É uma produção cultural em seu sentido mais amplo. O que alguns
filósofos culturais chamam de produção de cena. Por isso, coloquei esses
“estrangeiros” para implodir fronteiras e abrir perspectivas de novos
horizontes. Isso faz até pensar sobre a vida.
Por que
deu preferência ao documentário já que seu primeiro projeto era um filme?
R: Na
verdade, meu projeto sempre foi um filme. Porque documentário é uma espécie de
filme, assim como a ficção. Mas hoje, com o documentário contemporâneo, e do
que Jean Rouch com seu cinema verdade e Eduardo Coutinho com seus documentários
tão próximos das pessoas fizeram, há uma maior liberdade de criação. Lembro
Gualberto Ferrari, um querido cineasta franco-argentino, que me ensinou durante
uma semana que é preciso apaixonar-se por seus personagens para contar uma
história em imagens, para fazer cinema. Independentemente de ser documentário
ou ficção. Porque essas limites para os cineastas não existem. Hoje você
assiste a documentários tão imersivos e implosivos esteticamente que não é
possível enclausurá-los em uma categoria isolada. Como é o caso, por exemplo,
de “O Céu sobre os Ombros”, do Sérgio Borges. A arte de fazer cinema tem mudado
e esses novos olhares é que estão capitaneando esse processo artístico.
Depois da
estreia, tem pensado em algum outro projeto?
O que mais
tenho são projetos (risos). Tenho cinco roteiros registrados na Fundação
Biblioteca Nacional e mais dois para envio. O meu primeiro roteiro foi um
longa-metragem de ficção sobre a relação parental entre uma menina e um homem
adulto. Uma coisa um tanto mística e que se passa inteiramente em Poço Verde.
Como foi meu primeiro roteiro está horrível (risos). Mas penso em voltar a esse
projeto um dia e conclui-lo satisfatoriamente. Tem também o projeto de um
curta-metragem documental sobre Paú Barroca. Esse eu vou tentar pelo edital da
Secult que está aberto. E, mesmo que não consigo financiamento por edital, vou
dar um jeito de desenvolvê-lo. É uma dívida que tenho com Paú. Acho que posso
conseguir captar coisas muito interessantes dele, do modo como vê a vida, do
processo de composição e do confronto que quero erguer entre o homem e o
artista. Quero tentar seguir um caminho mais difícil e mostrar que quem está
construindo o homem é o artista. E não o inverso. Mas, fora isso, é só ralação.
Tem a UFS ainda para comer meu juízo. No próximo período me formo e já penso no
mestrado em roteiro audiovisual ou uma especialização em roteiro. Quero ser
roteirista e fazer filmes. Esse é um sonho que vou tentar colocar pra frente.
1o DOCUMENTÁRIO POÇO-VERDENSE RECEBE OS APLAUSOS DO PÚBLICO!
Reviewed by Jorge Schalgter Leal
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